Material utilizado no 3º encontro da Olimpíada de Língua Portuguesa.Gênero - Memória Literária
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Ficha 9 - Dizer de outro jeito
Texto: Da lamparina a energia elétrica
Ficha 9 - Dizer de outro jeito
Texto: Da lamparina a energia elétrica
Texto:Um guia possível para elaboração de sequências didáticas
Continue lendo, através do link abaixo.
Referências bibliográficas:
(1) SCHNEUWLY, B., Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In: Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado das Letras, 2004.
Heloisa
Amaral
Nosso
objetivo é tentar esclarecer, com esta quinta leitura, como as seqüências
didáticas e os gêneros textuais, quando associados, aumentam as possibilidades
de sucesso do ensino de língua. Para iniciar, podemos dizer que isso acontece
em razão de dois grandes motivos:
a) por um lado, os gêneros textuais podem ser
considerados megainstrumentos, isto é, grandes instrumentos que contêm uma
variedade de pequenos instrumentos que dão suporte para as atividades de
linguagem nas situações de comunicação (1).
b) por outro lado, as seqüências didáticas organizam o
ensino desses megainstrumentos que são os gêneros textuais (2).
Continue lendo, através do link abaixo.
I - Os
gêneros textuais como megainstrumentos nas situações de comunicação
Comentamos,
na leitura da quarta semana, que as situações de comunicação só ocorrem por
meio de gêneros. Isto é, a qualquer momento em que nos comunicamos, fazemos
isso por meio de gêneros. Comentamos, também, que sabemos, de um modo geral,
qual o gênero apropriado para cada situação de comunicação porque os
reconhecemos quando temos experiências socioculturais anteriores com essas
linguagens. A capacidade de usar um gênero qualquer, como uma conversa
cotidiana sobre o tempo, demonstra que temos grande conhecimento acumulado,
ainda que de forma intuitiva, sobre gramática e sobre discurso (isto é, sobre
como vai ser nosso modo de falar sobre o tempo). Sabemos colocar direitinho
nossas frases corriqueiras, sem que ninguém tenha feito um ensino formal disso,
como podemos ver pelo exemplo abaixo, que poderíamos dizer que pertence ao gênero
"conversa sobre o tempo":
-Será
que vai esfriar?
-Não sei, não. O homem do tempo disse
que vai fazer quinze graus no fim da tarde.
-Ah, quinze graus é frio pra mim. Sou friorenta. Nem trouxe blusa!
-Ah, quinze graus é frio pra mim. Sou friorenta. Nem trouxe blusa!
-É, mas às vezes eles erram.
-Tomara.
Esse
diálogo cotidiano entre duas pessoas que conversam e "chamam" o homem
do tempo para a conversa foi aprendido nas interações socioculturais. Não
nascemos sabendo falar nem coisas cotidianas simples como essas. Se os gêneros
do cotidiano são aprendidos, podemos deduzir que eles são ensinados, ainda que
informalmente. Como também vimos na Leitura 4, tudo o que aprendemos,
aprendemos nas situações sociais, com nossos parceiros mais experientes. No
caso da fala, é de parceiros mais experientes que recebemos orientações
precisas desde o início de sua apropriação. É só observar um adulto orientando
uma criança pequena para ver como ele ensina mais do que falar, ensina a dizer.
Ás vezes,
o adulto solicita a interação. Suponha a seguinte cena: a avó, com a criança no
colo, aponta para a mãe da criança e orienta uma ação de fala: "Diga
mamãe". A criança imita, dizendo "Ma...", sem completar a
palavra. A avó retoma, negociando com a criança a extensão da palavra e a
entoação, além do significado.
Apontando
novamente a mãe (atribuindo significado à palavra), a avó repete a palavra
separando as sílabas e dando a entoação correta, embora um pouco forçada, e
repetindo o exercício muitas vezes, até que a criança sozinha seja capaz de
dizer "mamãe". Também é preciso lembrar que todas as tentativas da
criança, mesmo as mais incompletas, são saudadas com alegria pela avó. Quando
ela consegue dizer "mamãe" direitinho então! A família inteira corre
para a criança, festeja, dá beijos...Você conhece a cena. O ensinamento de
língua feito no uso desse gênero familiar cotidiano envolve conhecimentos
de fonologia, de semântica, de segmentação de palavra, de pontuação, além de
conhecimentos discursivos, isto é, todos aqueles que estão
"embutidos" na série de significações que essa interação proporciona
que a criança aprenda.
Relembrando
essa cena que certamente você já viu muitas vezes, é possível identificar uma
situação de comunicação com todos os elementos: alguém que fala, para alguém
que ouve, em um ambiente de produção de linguagem, provavelmente a casa, com
uma intenção comunicativa, que envolve um jeito de dizer uma palavra carregada
de significados a alguém. É procedendo dessa maneira que pessoas adultas de
qualquer camada social ensinam suas crianças a falar os gêneros cotidianos e
muitos outros.
Os
suportes que a avó dá, no caso de nosso exemplo de interação, são os chamados
"andaimes" que os mais experientes usam para ensinar os menos
experientes a construir seus saberes. Os andaimes, no caso, são as repetições
que a avó faz da palavra, envolvendo essas repetições com intenções afetuosas
de ajuda para o desenvolvimento das capacidades de comunicação da criança. As
imitações da criança são o modo de contínuo e sucessivo que ela usa para
apropriar-se da palavra.
Essa cena
demonstra o que já se disse na Leitura 4, citando Vygotsky: primeiro somos
capazes de aprender nas inter-ações, nas ações entre as pessoas,
para depois internalizarmos essa aprendizagem, produzindo conhecimentos
pessoais. Essa forma afetuosa de atuar do parceiro mais experiente permite que
a criança saia de seu nível real de conhecimento, caminhe amparada pela
interação através da zona proximal e alcance, depois disso, um nível mais
elevado de conhecimento.
O modo
informal de usar os gêneros nas situações cotidianas de comunicação, e de
ensiná-los mais ou menos espontaneamente nessas mesmas situações, pode nos dar
muitas pistas de como eles são grandes instrumentos de comunicação que podemos
usar em sala de aula. A cena cotidiana ressalta o fundamental do processo de
apropriação da língua: é o uso do gênero nas situações de comunicação
que o torna esse megainstrumento. Assim, quando ensinamos um gênero
não-escolar, não podemos ter receios de levar textos não didatizados para a
sala de aula. Ao contrário, devemos levá-los tais como são, em seus suportes
originais, e construir andaimes para que os alunos possam internalizar, no
uso, esses gêneros novos para eles e ampliar suas capacidades de
comunicação.
Retomando
novamente o exemplo da avó, muitas vezes você agiu como ela, nas interações em
sala de aula com seus alunos, isto é, no uso de algum gênero (mesmo um gênero
escolar � aula de
leitura, por exemplo). Certamente você usou andaimes para que seus alunos se
apropriassem das passagens mais difíceis do texto lido, propondo discussões,
retomando entoações em palavras desconhecidas, reforçando os acertos. Nessas
interações, mesmo não nomeando as categorias dos conhecimentos ensinados,
ensinou bem, e certamente seus alunos aprenderam. Usou, então, o gênero como
megainstrumento.
II -
Seqüências didáticas como instrumentos auxiliares no ensino dos gêneros
textuais
Também
vimos que as seqüências didáticas são um conjunto de atividades ligadas entre
si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa. As atividades são
organizadas de acordo com os objetivos que o professor quer alcançar para a
aprendizagem de seus alunos e envolvem atividades de aprendizagem e de avaliação.
Essa
ligação entre aprendizagem e avaliação numa mesma ação é o que chamamos
de avaliação formativa. O comum nas antigas formas de avaliar era
ensinar primeiro, avaliar depois. Avaliar era uma ação realizada para saber o
quanto os alunos reproduziam daquilo que tínhamos ensinado. A avaliação
formativa, ao contrário, tem a finalidade de saber o que vai ser ensinado e
como esse "o que" precisa ser ensinado, com diversas adaptações ao
longo do processo de aprendizagem. Nesse novo modo de avaliar, a avaliação vai
se dando a cada momento, a cada etapa da seqüência, possibilitando a
intervenção do professor nos processos de aprendizagem muito rapidamente, à
medida que eles ocorrem, com o objetivo de ensinar mais e melhor. No caso da
seqüência didática para o ensino de gêneros textuais, àqueles
"andaimes" ou suportes próprios do uso do gênero como instrumento,
colocados pelo professor de maneira quase natural ao longo do ensino
(avaliações contínuas seguidas de intervenções imediatas), acrescentam-se,
então, as intervenções planejadas sobre os aspectos do gênero que o aluno
precisa dominar. Ações desses dois tipos (mais espontâneas e mais planejadas)
descrevem a atuação do professor como mediador na zona proximal de conhecimento
de seus alunos.
Ao mesmo
tempo em que você ensina avaliando e avalia ensinando quando usa uma seqüência
didática, você precisa criar situações para que os alunos interajam com seus
colegas. Você sabe como as crianças são avaliadoras rigorosas! Ensinam os
colegas, mas dizem francamente quando eles erram, às vezes de um modo muito
duro. Mas quase sempre também ajudam, dão suporte. Você pode aproveitar muito
bem essa disposição natural dos alunos se demonstrar a eles como é possível
interagir mantendo a franqueza, mas sem ofensas.
Além da
interação com você e com os colegas, o aluno precisa desenvolver práticas de
auto-avaliação que lhe permitam internalizar "um interlocutor" com o
qual possa conversar interiormente num diálogo com um "outro" que
está nele mesmo, ou seja, conversar consigo mesmo para avaliar-se. Um bom modo
de auxiliar os alunos a constituir esse interlocutor interno é fazer a
construção coletiva de roteiros para produção de textos no gênero que se quer
ensinar.
Como
muitos de vocês já disseram no terceiro e-mail para Rose, é preciso organizar
diversas atividades para dar conta do ensino de todos os elementos importantes
do artigo de opinião. Essas atividades são formas planejadas de intervenção (e,
portanto, de mediação planejada), ou seja, são suportes, andaimes colocados ao
longo do processo de apropriação do gênero e da produção de textos no gênero.
Assim, podemos concluir que o ensino planejado dos gêneros textuais em
seqüências didáticas pode resultar em ótimas situações escolares de
comunicação.
Resumindo
e finalizando, para realizar uma seqüência didática eficaz para o ensino de
gêneros textuais, você precisa:
- propor que seus alunos produzam uma escrita
inicial, sem maiores estudos prévios, que permita a identificação do grau
de conhecimento que eles já possuem sobre o gênero em estudo;
- planejar o ensino considerando o conhecimento
que os alunos já têm sobre o gênero;
- fazer perguntas que problematizem os conteúdos
a serem aprendidos com esse estudo, aproximando o que os alunos devem
aprender das vivências que eles têm;
- propor desafios que possam ser vencidos pelos
alunos. Esses desafios não devem ser nem muito fáceis, nem muito difíceis;
- propor e incentivar o levantamento de
hipóteses sobre os elementos do gênero em estudo (o conhecimento sobre o
tema, sua forma própria de composição, seus elementos característicos),
ouvir essas hipóteses e valorizá-las;
- ampliar a discussão sobre os aspectos do
gênero, com a finalidade de comprovar as hipóteses levantadas;
- organizar pesquisas sobre o tema do gênero e
entrevistas na comunidade para favorecer o domínio do conhecimento
necessário pelos alunos;
- dar informações sobre aspectos próprios do
gênero em estudo.
- organizar e sistematizar as descobertas e
conhecimentos, realizando uma escrita coletiva com você no papel de
escriba da turma;
- propor a escrita individual a partir de um
roteiro próprio para o gênero;
- orientar o aluno para a auto-avaliação de sua
escrita (veja o Roteiro para o aluno realizar a
autocorreção do artigo de opinião Atenção! Este arquivo abrirá
em um pop-up, verifique se seu bloqueador de pop-up está desativado);
- avaliar a escrita dos alunos e interferir
quando necessário, para garantir a aprendizagem de todos, de acordo com as
possibilidades de cada um.
Referências bibliográficas:
(1) SCHNEUWLY, B., Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In: Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado das Letras, 2004.
(2)
SCHNEUWLY, B., DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos
objetos de ensino. In: Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org.
de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado das Letras, 2004.
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